Angélica Ivo diz que a morte do filho, Alexandre, teve "todos os requintes de crueldade possíveis". Nome do jovem poderá batizar projeto de lei anti-homofobia
Angélica Ivo, mãe do adolescente Alexandre, vítima de preconceito (Foto: arquivo pessoal)
Jovem, inteligente, bem humorado, amoroso e de estilo próprio. Estas são algumas das características destacadas por aqueles que conheciam Alexandre Ivo, garoto de São Gonçalo (RJ) brutalmente assassinado em junho de 2010, aos 14 anos, vítima de preconceito homofóbico. Angélica Ivo, sua mãe, espera e luta há mais de um ano pela punição dos responsáveis pelo crime que, segundo ela, “teve todos os requintes de crueldade possíveis”.
Alexandre Ivo batizou, recentemente, o possível substitutivo ao Projeto de Lei da Câmara 122/06, que prevê a criminalização da homofobia. A história do jovem comoveu o estado do Rio de Janeiro em meados do ano passado, quando três homens espancaram Alexandre até a morte e o atiraram em um terreno baldio na madrugada de 23 de junho. Uma queixa na delegacia após uma briga entre o grupo de amigos de Alexandre e três skinheads teria motivado a agressão e o assassinato do jovem.
Dois amigos de Alexandre que são homossexuais sofreram ameaças após o episódio. À época, a polícia identificou Eric Boa Hora Bedruim e Alan Siqueira como os possíveis agressores do adolescente, e decretou prisão temporária de ambos, no prazo de 60 dias. No entanto, eles conseguiram um habeas corpus para aguardar em liberdade o julgamento, que ainda não ocorreu.
A apreensão de Angélica é flagrante quando ela conta que Alexandre não tinha orientação sexual definida. “Ele estava 'se descobrindo', jogava bola, andava de skate, e, segundo os amigos, não tivera nenhuma experiência sexual ou amorosa nem com menino, nem com menina”, relata a mãe.
Todos contam que Alexandre mantinha uma relação saudável com sua família e todos os dias ajudava nos cuidados à sua avó, que meses antes havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Na escola, o garoto é lembrado, segundo depoimentos dos professores à polícia, como um menino muito inteligente e ativo, que participava de todos os debates em sala de aula e colocava, sem hesitar, seu ponto de vista, seja ele qual fosse.
Pela espontaneidade, sonhava trabalhar como ator. A mãe conta que sua beleza física chamava a atenção nas ruas e que por diversas vezes Alexandre fora convidado para ensaios fotográficos em agências de modelos.
Leitor assíduo, segundo Angélica, Alexandre ganhava livros do avô e separava, quase que diariamente, alguns minutos para a leitura. A menina que roubava livros era a obra à qual ele se dedicava quando foi morto.
“Eles sabem que a impunidade é grande e quando fizerem isso (cometer crimes motivados por homofobia) não vai acontecer nada. Quem sofre é somente a família”, desabafa Angélica, que aguarda esperançosa alguma atitude da justiça para punir aqueles que “mataram uma criança feliz, de bem com a vida, que não fazia mal a ninguém, por puro preconceito”.
Sem comentários:
Enviar um comentário