Novo kit deve sair neste ano, diz Haddad
Segundo o ministro, toda a celeuma em torno do kit acabou sendo "benéfica, porque o tema entrou na agenda". "As pessoas estavam muito desinformadas", disse.
Criticado principalmente por parlamentares evangélicos, o material foi alvejado na quinta pela própria Dilma Rousseff, que disse ter visto em peças do kit "propaganda de opção sexual".
No mesmo pronunciamento, aproveitou para chamar para a Secretaria de Comunicação da Presidência a responsabilidade final pela aprovação de material produzido por órgãos de governo, como MEC e Ministério da Saúde, e que tratem de costumes ou valores culturais.
Probabilidade
Ontem, Haddad disse que a presidente criticou particularmente o filmete chamado "Probabilidade", que apresenta a situação de um garoto bissexual.
Segundo ele, Dilma ficou contrariada com a mensagem final, em que voz em off diz que o garoto, "gostando dos dois [de meninos e meninas]", duplicava a "probabilidade de encontrar alguém por quem sentisse atração".
"Não tem a ver com probabilidade, isso. Essa conclusão é inadequada, porque sugere que [o bissexualismo] é uma coisa boa. E nós não temos de entrar nesse mérito; só temos de dizer que as pessoas têm o direito de não ser discriminadas", teria dito a presidente ao ministro, segundo relato dele. Haddad disse ter concordado com a crítica de Dilma.
Além desse filmete, o kit de trabalho do projeto "Escola sem Homofobia" incluiria ainda outros dois vídeos sobre transexualismo e lesbianismo, além de um livro de orientação aos professores.
Segundo o ministro, o material anti-homofobia ainda deveria passar por uma série de críticas técnicas e científicas, feitas por educadores e psicólogos.
Haddad afirmou que o kit vem sendo elaborado há três anos, período em que se produziram vários protótipos de filmetes e materiais de apoio. "Nesse período, vários desses materiais já foram descartados e outras mudanças ainda seriam feitas, antes de o material final ser encaminhado às escolas."
Homofobia
Os 6.000 colégios para os quais o MEC pretende endereçar o kit são onde houve casos de homofobia -o país tem 27 mil escolas de ensino médio, segundo dados do Censo Escolar 2009.
Em princípio, o material seria voltado aos professores, que decidiriam sobre a conveniência de usá-lo. Segundo o ministro, o alvo são alunos do ensino médio.
Para a professora de filosofia da educação da Uerj Lílian do Valle, sem preparação adequada de docentes, o kit poderia ter efeito contrário, e "alunos homossexuais poderiam acabar mais expostos".
"Há uma supervalorização do material escolar, como se ele se bastasse. O professor é que dá sentido a esse kit."
Kit anti-homofobia foi deturpado, diz movimento gay
Representantes do movimento gay da cidade repudiaram a postura dos deputados federais da bancada religiosa que foram contra a distribuição do kit anti-homofobia do MEC.
Para Fábio de Jesus Silva, 22, da ONG Arco-íris, e Nélio de Figueiredo, 50, da Diversidade, houve "deturpação" dos objetivos do material.
Eles criticaram a forma como a crise com Antonio Palocci (Casa Civil) foi usada para barrar a iniciativa, como noticiou ontem a Folha.com.
Para pedagoga, professor é que dá sentido a material
Para a professora de filosofia da educação da Uerj Lílian do Valle, sem preparação adequada dos professores, o kit anti-homofobia poderia acabar tendo efeito contrário ao planejado e os alunos homossexuais poderiam acabar "mais expostos".
"Há uma supervalorização do material escolar, como se ele se bastasse. O professor é que dá sentido a esse kit. O professor pode pegar esse kit e levar para um lugar completamente contrário do que se quis."
Para a professora, é "perverso esperar que a escola faça um trabalho que a sociedade ainda não conseguiu fazer". Ela diz que o ideal seria preparar os professores para discutir o tema da homofobia, e não começar a tratar da questão com a imposição de um kit "enorme".
"A escola não pode ser refém de um movimento que é a sociedade que tem que fazer", diz.
Fonte: Folha de S.Paulo
http://www.agenciaaids.com.br/