2010 foi um ano intenso para os LGBTs. A homofobia foi vista, sentida, pregada, filmada e negada.
Nos EUA:
Por outro lado:
Homofobia nas universidades brasileiras:
Abril: Jornal universitário da USP, “O Parasita”, convoca estudantes a jogarem fezes em homossexuais em troca de convite para festa.
Junho: Trote de estudantes de comunicação na UNB (Universidade de Brasília) com versos homofóbicos.
Setembro: Estudantes homossexuais são vítimas de homofobia no alojamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Outubro: Jovens gays são agredidos com palavras e socos em festa na USP.
Novembro: O reverendo Augusto Nicodemus Gomes Lopes ataca de forma equivocada o projeto de lei que criminaliza a discriminação por orientação sexual, PLC 122, em site da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Dezembro: Email homofóbico circula na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estimulando alunos de medicina a recusar atendimento aos gays, dentre palavras ofensivas.
Dezembro: Professor de faculdade do Piauí aplica prova com conteúdo homofóbico em classe.
Homofobia na política:
Março: Carlos Apolinário vereador de São Paulo e líder do DEM tentou tirar a Parada Gay da Avenida Paulista e criticou a criação de um posto de informações turísticas para gays.
Maio: Em busca de votos, Anthony Garotinho do PR, faz discurso homofóbico em evento evangélico, no Rio de Janeiro.
Junho: Eduardo Cunha do PMDB-RJ propõe projeto de lei reacionário que criminaliza a discriminação de heterossexuais como o “direito de ser normal”.
Novembro: O Deputado Federal Jair Bolsonaro do PP, defende coro em filho que começa a apresentar comportamentos homossexuais. Em seguida destila homofobia em programas populares de canais abertos.
Dezembro: Ary Campos, conselheiro aposentado do TCE, e em negociação com PP para a prefeitura de Rosário do Oeste dispara: Nunca fui ladrão ou homossexual.
Eleições:
Índio Costa, vice de Serra, PMDB, sinaliza acordos com o líder da Assembléia de Deus para veto de leis que garantam direitos aos LGBTs.
O fundamentalismo religioso derruba Fátima Cleide, PT, do Senado Federal, conhecida por sua luta em prol das minorias e relatora do PLC 122. Em seu lugar, entra o ficha suja Ivo Cassol (PP), que aguarda julgamento pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia por abuso de poder econômico em 2006.
O segundo turno das eleições de 2010 foi marcado pelo fundamentalismo. Em busca dos votos de cristãos, Serra e Dilma leiloaram os direitos LGBTs atacando a PLC 122 e o Casamento Civil. Dilma fez acordos com Marcelo Crivella e Magno Malta, enquanto Serra utilizou o Pastor Silas Malafaia nos horários eleitorais, pastor conhecido pela forma preconceituosa que ataca os homossexuais.
Por outro lado, o PSOL exibiu o primeiro beijo gay em horário eleitoral. E o PSTU faz campanha contra a homofobia.
Jean Wyllys é eleito o primeiro Deputado Federal assumidamente homossexual com propostas para a população LGBT.
No futebol também não faltaram exemplos de homofobia:
O presidente da Federação de Futebol da Croácia diz ser contra gays no futebol. Poucos dias depois um dirigente de um clube do país diz que gays são para o ballet e não para o futebol.
Já no Brasil. Torcida organizada do São Paulo chama Richarlyson de traste após ser visto em boate GLS.
E o jogador do Santos, Ganso dispara: “Graças a Deus não há gays jogando no Santos”.
Em contrapartida:
O goleiro assumidamente gay, Messi, se torna o xodó de time da 2ª divisão do Potiguar, no Rio Grande do Norte, mostrando que a sexualidade não tem nada a ver com competência.
Já o ex-jogador de futebol Raí entrou em defesa dos homossexuais no programa Irritando Fernanda Young da GNT, na ocasião Raí condenou as manifestações homofóbicas no futebol.
Outras celebridades também entraram em defesa dos homossexuais este ano:
Fernanda Takai, da banda Pato Fu, iniciou uma campanha na internet contra a homofobia.
E PC Siqueira, vlogueiro e celebridade na internet, fez um vídeo condenando a homofobia no Brasil.
2010 foi o ano da consagração de Lady Gaga como artista pop. A cantora aproveitou o momento para abraçar ainda mais a causa LGBT.
Muitos famosos assumiram sua sexualidade em 2010. Alguns exemplos:
Tiziano Ferro;
Anna Paquim;
Jane Lynch;
Lady Gaga;
Kesha;
Lady Sovereign;
Nando Reis;
Sérgio Brito.
Uma triste perda: Morre Cláudia Wonder, ícone da cultura gay brasileira.
Prêmio Emmy para Modern Family, seriado de comédia americana que trata, dentre outros temas, da vida de um casal gay americano que acaba de adotar uma menina.
Cyndi Lauper lidera a campanha contra o preconceito I Give a damn, a cantora contou com a colaboração de Anna Paquin, Elton John, Wanda Sykes, Whoopi Goldberg e vários outros artistas.
Consagração também para Glee, a série americana que se tornou um fenômeno nos EUA e no mundo e que aborda temas como homossexualidade e bullying homofóbico.
O bullying contra homossexuais no ambiente escolar também foi tema de campanha nos EUA, após o suicídio de um jovem numa universidade. A campanha ‘It’s Get Better”, em português, “Vai melhorar” contou com o apoio de artistas famosos como Rick Martin, Lady Gaga, Madonna, de empresas como a Pixar, e até do presidente dos EUA Barack Obama. A campanha deve ganhar uma versão brasileira em 2011.
Enquanto isso, um conselheiro escolar nos EUA defendeu o suicídio de jovens gays com a justificativa de que pecadores devem se matar por conta de seus pecados.
De volta ao Brasil:
As novelas seguiram com gays fazendo papéis estereotipados e sem demonstrações de afeto, isso quando não terminavam virando héteros. O esperado beijo gay também não saiu do papel.
Dourado, participante que saiu vencedor do Big Brother Brasil 10, da Rede Globo, disse no programa que homens héteros não pegam HIV e que quebraria os dedos da participante LGBT Angélica, caso ela desse encima de sua namorada. O participante gerou uma onda homofóbica na internet sob o manto de uma suposta heterofobia, citando o “Orgulho Hétero”.
Mesmo com tom político e de protesto da Parada Gay desse ano, contra a homofobia, os humorísticos preferiram continuar retratando o evento de forma caricata e excêntrica.
O colunista Reinaldo Azevedo da Veja desqualificou o movimento LGBT como “gayzista”, atacando o PLC 122 chamando-o de AI-5 Gay, insinuando que gays já tem seu espaço conquistado, dando como exemplo as novelas e programas que contam com a presença de homossexuais.
A Revista Veja qualificou a militância gay como desnecessária. Segundo ela, todos os avanços conquistados pelos LGBTs vieram naturalmente e que hoje os jovens que quiserem se assumir, em qualquer parte do país o podem fazer sem grandes constrangimentos.
O mundo cor-de-rosa pintado pela revista em maio veio abaixo com a onda de violência e homofobia que surgiu no país:
Junho, shopping de São Paulo utiliza cavaletes, de forma irregular, para acabar com a reunião de jovens homossexuais no local.
Agosto, estudante de 23 anos é espancado após ser confundido com gay no Rio de janeiro.
Setembro, jovens acusam PMS de agressão após parada gay no Distrito Federal.
Outubro, motéis no Amazonas proíbem a entrada de homossexuais.
Novembro, escola gay em Campinas é alvo de ataques 2 vezes no mesmo mês.
Carioca é agredido por irmão antes de ir a Parada Gay.
Advogado agride jovem de 25 anos, em Fortaleza. Segundo a vítima, a agressão aconteceu pela segunda vez.
Daniel Sena, criador da série gay para web, “Apenas Heróis”, foi agredido e violentado por um grupo de rapazes na Bahia. Segundo a vítima, durante tortura de aproximadamente 10 minutos, os agressores fizeram o cineasta beber gasolina e comer terra. Após isso, tentaram violentá-lo com uma barra de ferro gritando: “Quem é gay de verdade agüenta sentir dor, vamos ver se você é gay de verdade”.
Ataques homofóbicos na Avenida Paulista em São Paulo. Um grupo de 5 rapazes agrediu três jovens em 2 ataques diferentes. No primeiro, foram dois homossexuais que aguardavam um Táxi na altura do número 459 da Avenida. O segundo ataque, desta vez com lâmpadas fluorescentes, foi contra outro jovem que foi confundido com um homossexual. Os ataques foram filmados por câmeras de segurança. Antes dos ataques o advogado de um dos agressores alegou que os rapazes foram supostamente paquerados pelas vítimas. Após a liberação das imagens e do depoimento confirmar a motivação homofóbica e sem motivo dos ataques, os agressores foram presos.
Duas semanas depois, já em dezembro, outro ataque contra um homossexual foi registrado por câmeras na Paulista. Dessa vez o agressor utilizou um soco inglês para desferir um soco contra a vítima.
Ainda no mês de dezembro, um casal homossexual foi humilhado pelo segurança de uma conhecida rede de docerias de São Paulo, por darem um abraço no estabelecimento.
Homossexual é baleado por policial do exército após a Parada Gay no Rio.
Igreja evangélica que defende a inclusão de homossexuais é alvo de ataques em Fortaleza.
Kit de Combate a Homofobia para escolas do Ensino Médio é alvo de calúnias por parte de políticos homofóbicos. (Veja matéria no blog)
As famílias LGBTs são deixadas de fora do “Estatuto das Famílias” mais uma vez.
E um menino de 16 anos foi espancado pelo padrasto, com o consentimento da mãe, após revelar que era gay.
Crimes:
10 anos da morte do adestrador de cães, Edson Neris, espancado até a morte por um grupo de neonazistas. Todos os assassinos continuam soltos.
Camile, travesti e militante da causa LGBT, é assassinada a pauladas em São Paulo.
Mulher lésbica é assassinada, por homofobia, com um taco de sinuca em Teresópolis, Rio de Janeiro.
O professor e militante homossexual, Mario Antonio Alves é encontrado amordaçado e estrangulado dentro da própria casa no Pará.
O silencio dos homossexuais da pequena cidade de Porto Folha no Sergipe, foram três assassinados com requintes de crueldade contra homossexuais em apenas 1 ano.
E Alexandre Ivo Rajão, 14 anos, torturado e morto por homofobia em junho. Os assassinos continuam soltos. A mãe de Alexandre luta por justiça.
São 232 mortes por homofobia este ano, isto até novembro! Um triste recorde histórico. Isto revela um aumento em torno de 20% em relação a 2009.
O ano não acabou e temos mais mortes e agressões.
Garota beija amiga e leva socos de duas mulheres, na Rua Augusta em SP no dia 22 de dezembro
Manifestações:
2010 também foi um ano em que os LGTBs e a sociedade em geral levantaram a voz contra a Homofobia e a Impunidade:
1ª Marcha contra a homofobia.
Beijaços contra o preconceito.
Protestos em SP e no Rio.
Conquistas dos LGBTs em 2010:
Governo Federal autoriza pensão para companheiros homossexuais de servidores públicos;
Homossexuais poderão incluir dependentes no imposto de renda;
Portaria do INSS torna definitiva regra que reconhece pensão em união gay;
Justiça do Rio de Janeiro declara direito a herança em união homoafetiva;
Justiça do Rio Grande do Sul autoriza transexual a mudar de nome sem cirurgia de mudança de sexo;
Aprovada permissão para transexuais adotarem novo nome;
Tribunal de Roraima concede direito de adoção a casal homossexual;
No Paraná, Juiz autoriza casal homossexual a adotar criança com paralisia;
Supremo Tribunal Federal dá ganho de causa à adoção por casal gay no Paraná;
Canal de denúncias, disque 100, começa a receber denúncias de homofobia no Brasil inteiro;
Criado o Conselho Nacional LGBT
Segundo a Organização Mundial da Saúde o Brasil é o país que mais discrimina homossexuais no mundo, seguido do México e EUA.
Dados oficiais do Grupo Gay da Bahia dão conta que em torno de 232 pessoas foram mortas vítimas de homofobia em 2010 em todo o Brasil.
Enquanto isso o PLC 122, lei que criminaliza a discriminação por orientação sexual, tramita no Senado, sendo alvo de críticas e argumentos mentirosos daqueles que não querem um país igual para todos.
Até quando?
http://eleicoeshoje.wordpress.com/retrospectiva-lgbt-2010/